Na
última quinta-feira, dia 20 de julho, aniversário
de Santos Dumont, fiz uma palestra, utilizando tecnologia de videoconferência,
diretamente desse escritório aqui na NASA em Houston. Simultaneamente,
pude falar com cinco auditórios diferentes no Brasil. Centenas
de pessoas. Muitas perguntas sobre o programa espacial, Força
Aérea, vôo tripulado, Estação Espacial,
planos futuros, etc.
Entre todas elas, a freqüência do questionamento sobre
eu entrar ou não para a vida política chamou a minha
atenção. Todos ouviram a mesma resposta simples:
“Não! Eu não sou candidato a nada
nas eleições de outubro!”.
A impressão que eu tenho é que nós, brasileiros,
procuramos desesperadamente por alguém que possa, como
passe de mágica, resolver todos os problemas que assolam
o país nesses dias. As eleições de outubro
aparecem como um catalisador que “poderia” desencadear
reações instantâneas que teriam como produtos:
uma vida mais justa, menos violência, mais educação,
menos medo, mais empregos, menos pessoas que falam, mais pessoas
que fazem. Mais ou menos isso.
Acordei pensando sobre isso. Também tenho essas mesmas
esperanças. Esses mesmos sonhos. Incomoda a sensação
de impotência perante todo esse cenário. “O
que é que eu poderia fazer?”, nos perguntamos indignados.
A frase de Ghandi, “qualquer coisa que você fizer
será insignificante, mas é essencial que você
faça a sua parte”, consola o coração
inquieto. Contudo, além da necessidade de “fazer”
essa parte, também é necessário fazer bem
feito.
É aí onde entra o meu ponto sobre esse assunto de
política. Noto que existe uma certa confusão com
relação as minhas habilidades profissionais. Sou
engenheiro, piloto e astronauta. Passei minha vida inteira aprendendo
e trabalhando em atividades nessas áreas: técnica
e operacional. Também adquiri experiência administrativa
ao longo dos anos nos projetos que trabalho no programa espacial
e defesa. Contudo, tudo sempre voltado para a área técnica.
Política não faz parte do meu currículo.
Sem dúvida, acho a atividade política de extrema
importância para todo o andamento do país. Isso é
lógico. Um tanto acentuado no Brasil, mas é fato
no mundo todo. Como citei anteriormente, também compartilho
os mesmos sonhos e esperanças que renascem a cada eleição
para todos os brasileiros. Entendo e respeito, portanto, os questionamentos
e pedidos que recebo do público para ingressar na carreira
política.
Porém, a minha atitude pessoal e profissional é
pautada em precisão de engenharia, números, projetos,
procedimentos determinados, objetivos, planejamento, treinamento
e resultados. Essa diretriz determina, portanto, como extremamente
essencial, a correta preparação para qualquer pessoa
executar, de forma eficiente, qualquer atividade.
Transfira essa diretriz de atitude para a esfera e importância
das decisões da atividade política, afetando diretamente
a vida de milhares ou milhões de pessoas, e tenha assim
uma idéia do nível de preparação que
eu considero essencial antes de sequer cogitar atuar nessa área.
Conhecimentos adequados em sociologia, história, economia,
administração pública, direito, etc, nunca
fizeram parte do meu dia-a-dia. Simplistas poderiam até
dizer que a inteligência e o bom senso são as únicas
habilidades necessárias e que o conhecimento seria adquirido
durante a prática. Discordo. O tempo de mandado é
curto e não é para aprender. Traduzido no meu universo
de atividades, imagine que o piloto do seu vôo na ponte
Rio-São Paulo diga que aprenderá a voar durante
aqueles 45 min? Preparação é necessária.
Aqui na NASA, represento o Brasil no setor técnico do Programa
da Estação Espacial Internacional (ISS). No espaço,
representei 180 milhões de pessoas, durante a primeira
missão espacial do governo brasileiro. São responsabilidades
enormes. Contudo, eu estudei profundamente as atividades e me
preparei muito para realizá-las. Foram anos de dedicação.
O resultado foi a execução sem qualquer erro operacional
da missão Centenário e a continuidade atual da participação
brasileira na ISS. Esse é o meu trabalho, e continuo aqui,
à disposição do Brasil, para executar outras
missões se o país precisar. O cenário político
é um outro universo para mim.
Além da falta de preparação adequada, também
existem outros dois pontos importantes: o tempo disponível
para preparação e o conhecimento profundo de uma
causa social.
Quanto ao tempo disponível, no planejamento atual das minhas
atividades junto a projetos espaciais, de defesa e sociais, eu
não teria condições para a preparação
adequada e trabalho político.
Com relação à definição de
objetivos, só vejo como válida a participação
de qualquer um na carreira política quando baseado em uma
forte razão social, enraizada na comunidade representada
por ele(a) e de seu total conhecimento.
Minha paixão é a educação, e pretendo
atuar muito nessa causa social. Contudo, apenas recentemente tornou-se
possível a minha participação ativa nesse
setor. Assim, embora já esteja definida e certa essa minha
“missão” com a educação do Brasil,
ainda não tenho o cenário completo dos problemas
da área para que eu possa analisá-los e determinar,
com precisão, qual seriam exatamente os meus objetivos
na área política para ajudar a resolvê-los.
Portanto, em resumo, no momento trabalho em muitos projetos e
planos, mas todos nas áreas técnica e social, nada
político. Uma carreira política só seria
possível quando eu tiver todas as condições
e preparação que considero essenciais para tal,
conforme descrevi acima. Conhecendo o nível de exigência
que determino para a minha performance pessoal e profissional,
é possível que isso nunca aconteça, visto
a dinâmica de minhas outras atividades pelo país.
Assim, finalmente, para todos aqueles que tanto querem e solicitam
que eu participe da área política, eu peço
desculpas, mas isso não vai acontecer no momento. Não
é “fugir da raia”. Quem me conhece bem sabe
que aprecio, e muito, encarar desafios novos. Porém, pelas
considerações acima e pelo potencial atual de minha
contribuição nas atividades no setor tecnológico
e social para o Brasil, deixo essa “missão”
política para aqueles que realmente estão no nível
de preparação necessário para assumi-la a
partir de Outubro.
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